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O Cavalo e o Burro

O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade. O cavalo contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro — coitado! Gemendo sob o peso de oito. Em certo ponto, o burro parou e disse:

— Não posso mais! Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.

O cavalo deu um pinote e relinchou uma gargalhada.

— Ingênuo! Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo

O burro gemeu:

— Egoísta, Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.

O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso. Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.

Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.

— Bem feito! Exclamou o papagaio. Quem mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro egoísmo era aliviá-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrada agora…

[…]

LOBATO, Monteiro. Disponível em: <https://contobrasileiro.com.br/o-cavalo-e-o-burro-fabula-de-monteiro-lobato/>. Acesso em: 17 set. 2021. [Fragmento]

Monteiro Lobato
Monteiro Lobato

Nasceu em 1882 em Taubaté, interior de São Paulo. Estudou direito em São Paulo, mas voltou para o interior aos 22 anos, quando começou a se dedicar à literatura. Porém, sua grande estreia como escritor se deu em 1918, com o lançamento do livro de contos Urupês. Ao longo de toda sua vida, Lobato escreveu e trabalhou com os mais diversos gêneros literários, mas foi na literatura infantil, com os livros do Sítio do Picapau Amarelo, que ele conquistou (e vem conquistando) leitores por todo o Brasil.