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Correspondências

A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam sair às vezes palavras confusas:
Por florestas de símbolos, lá o homem cruza
Observado por olhos ali familiares.


Tal longos ecos longe lá se confundem
Dentro de tenebrosa e profunda unidade
Imensa como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se transfundem.


Perfumes de frescor tal a carne de infantes,
Doces como o oboé, verdes igual ao prado,
– Mais outros, corrompidos, ricos, triunfantes,


Possuindo a expansão de algo inacabado,
Tal como o âmbar, almíscar, benjoim e incenso,
Que cantam o enlevar dos sentidos e o senso.

Charles Baudelaire. In: José Lino Grünewald, org. e trad. Poetas franceses do século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. p. 59.

Vocabulário

almíscar: substância de origem persa, de odor penetrante e persistente, obtida a partir de uma bolsa situada no abdome do almiscareiro macho.
ambar: aroma, cheiro suave; o que tem cor entre o acastanhado e o amarelado.
benjoim: resina balsâmica, aromática, usada para a fabricação de incensos e cosméticos.
oboé: instrumento de sopro.
prado: campina.
transfundir: transformar-se, converter-se; levar algo a se tornar parte de outra coisa.

Charles Baudelaire

Charles Baudelaire

Charles Pierre Baudelaire (Paris, 9 de abril de 1821 — Paris, 31 de agosto de 1867) foi um poeta, ensaísta, tradutor e crítico de arte francês. É considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia, juntamente com Walt Whitman, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.