Um Morcego estonteado pousou certa vez no ninho da Coruja, e ali ficaria de dentro se a Coruja ao regressar não investisse contra ele.
— Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha casa, sabendo que odeio a família dos ratos?
— Achas então que sou rato? Não tenho asas e não voo como tu? Rato, eu? Essa é boa!…
A Coruja não sabia discutir e, vencida de tais razões, poupou-lhe a pele.
Dias depois, o finório Morcego planta-se no casebre do Gato-do-mato. O Gato entra, dá com ele e chia de cólera.
— Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha toca, sabendo que detesto as aves?
— E quem te disse que sou ave? – retruca o cínico. – Sou muito bom bicho de pelo, como tu, não vês?
— Mas voas!…
— Voo de mentira, por fingimento…
— Mas tem asas!
— Asas? Que tolice! O que faz a asa são as penas e quem já viu penas em morcego? Sou animal de pelo, dos legítimos, e inimigo das aves como tu. Ave, eu? É boa…
O Gato embasbacou, e o Morcego conseguiu retirar-se dali são e salvo.
Moral da história: O segredo de certos homens está nesta política do morcego. É vermelho? Tome vermelho. É branco? Viva o branco!
LOBATO, Monteiro.