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Carta de Mário de Andrade à Carlos Drummond de Andrade

São Paulo, 10 de novembro, 1924

Meu caro Carlos Drummond

Já começava a desesperar da minha resposta? Meu Deus! comecei esta carta com pretensão… Em todo caso de mim não desespere nunca. Eu respondo sempre aos amigos. Às vezes demoro um pouco, mas nunca por desleixo ou esquecimento. As solicitações da vida é que são muitas e as da minha agora muitíssimas e… Quer saber quais são? Tenho o meu trabalho cotidiano, é lógico. Lições no Conservatório, lições particulares. […] Como vai o Nava? Vocês não arranjam mesmo um jeitinho de vir passar uns dias em São Paulo? Isto aqui é engraçado. Me avisem antes se um dia se aventurarem até aqui. E até logo. Vou lhe mandar uma cópia do “Noturno”, é só minha irmã ter um tempinho e passará a versalhada a máquina. Olhe, a Estética publicou um poema meu, “Danças”, que eu acho que tem alguma coisinha dentro. Reflita e mande me dizer.

Um abraço do

Mário de Andrade

DE ANDRADE, Carlos Drummond. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade. Editora Companhia das Letras, 2015. Disponível em: <https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13973.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2021. [Fragmento]

Mário de Andrade
Mário de Andrade

Mário de Andrade (1893-1945), paulista da capital, que cantou como nenhum outro, estreia com livro de poesia em 1917. Sua primeira obra modernista foi Paulicéia desvairada (1922). Foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, na qual palestrou e recebeu muitas vaias. Teórico do Modernismo, além da obra pessoal, consagrou-se à militância jornalística, institucional e epistolar. Com Macunaíma (1928), atingiu o apogeu da prosa modernista. Praticou uma poesia de andamentos dilatados e poemas extensos, voltada para a meditação. Principais livros: Paulicéia desvairada (1922), Losango cáqui (1926), Clã do jabuti (1927), Remate de males (1930), Poesias (1941) e Poesias completas (1966).