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Alcoólatras Anônimos

Dia desses estava num dos caixas do Supermercado Tischler, o da rua 7 de Setembro. Atrás de mim um guri, 9 ou 10 anos, com uma garrafa de aguardente de cana, como é mais conhecida a cachaça, numa das mãos e na outra o dinheiro dobrado. Acontece que sou meio chato para essas coisas. E avisei a moça que estava empacotando minhas compras (ela estava ensinando a novata do caixa) da proibição de vender bebidas a menores de idade. Me fiz de sonso e fiquei por ali até o menor passar com a bebida recém comprada. Fui para o carro, que estava no estacionamento do futuro shopping. Em seguida, passa o guri com a bebida e entra,acreditem, no prédio do shopping, pela porta que tem em meio aos tapumes.

“Tudo em família”, pensei eu. O supermercado vende a bebida ao menor que trabalha ou é filho de quem trabalha no prédio da mesma família. Claro que pelo horário, 19h aproximadamente, decerto não estavam mais construindo nada. A cachaça deveria ser para o vigia que, ou mora ali no prédio, ou bebe em serviço. Não culpo o vigia de beber. Deve ser difícil mesmo passar a noite num prédio inacabado daquele tamanho. Nem por ele ter mandado o guri ir comprar cachaça. Como a maioria da população,ele deve desconhecer a proibição.

Já o supermercado, até pelo tamanho,deveria saber da proibição de vender a menores bebidas alcoólicas e coibir a venda, treinando seu pessoal. Em países da América do Norte ou Europa, os comerciantes exigem dos clientes a carteira de identidade para comprovar a maioridade, até porque se forem pegos vendendo bebidas a menores vão para a cadeia. Aqui no Brasil, tudo acaba em samba mesmo. Nem multa aplicam. Pensando bem, também não dá para culpar o Tischler, pois se ele não vender, qualquer boteco de esquina vende. “Teria que haver mais fiscalização”, diriam aqueles que só sabem pôr a culpa nos órgãos públicos. Mas quem fiscalizaria?A Prefeitura? O Conselho Tutelar? A Promotoria? Como se eles não tivessem coisas mais importantes para fazer e se preocupar.

[…]

No mesmo dia do ocorrido, li uma notícia interessante aqui no jornal. A atriz Juliana Paes foi proibida de fazer comerciais de cerveja. Isto porque a estrela global é menor de 25. É algo parecido com o que hoje se faz com os comerciais de cigarro. Botam uma mulher daquelas, com o corpo escultural e rosto angelical, dando a imagem de quem bebe é bonito igual ela. Ora, longe dedar uma de moralista, mas quem frequentemente enche a cara deforma o corpo, não só o fígado mas a pele e outras partes visíveis. Acostumar guris a comprar de forma corriqueira bebidas alcoólicas é, no mínimo, fazer com que eles naturalmente provem futuramente. Daí é um passo para se tornar alcoólatra…

SELBACH, Jeferson. Cachoeira em crônicas: Cotidiado. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000074.pdf. Acesso em: 17 ago. 2020. [Fragmento]