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Edgar Allan Poe: o mago do terror

O dia se estendia cada vez mais gelado e escuro. Os alunos, especialmente os pequenos, tremiam de frio e de medo, olhando sobre os ombros, esperando em cada aleia que alguma assombração aparecesse. […]

Edgar sentiu um pavor imenso. Nunca tinha entrado num cemitério. A ideia da morte o angustiava porque ecos do passado chegavam ao consciente. Era muito pequeno quando a mãe morrera, nem se lembrava dela, mas a sensação de luto fora demasiado forte para que não ficasse gravada no fundo de sua alma. E agora, naquele cemitério, as lápides brancas e os grandes ciprestes… Ele queria sair de lá o mais depressa possível, ele queria estar em casa com a Ma e a tia Nancy, ele odiava a escola, Irvine e o pai. […]

Naquela noite, Eddie não conseguia dormir. Cada vez que fechava os olhos, era atormentado por cenas que o deixavam apavorado. Lá pelas tantas, perguntou ao primo James:

— Jimmy, você já entrou num cemitério?

O primo, que começava a pegar no sono, murmurou alguma coisa e virou para o outro lado. Edgar insistiu:

— Você já entrou ou não?

Dessa vez, James acordou. Conhecia bem o garoto para saber que, se não respondesse logo, não teria sossego.

— O que você quer, Eddie? Eu já estava quase dormindo.

— Quero saber se você já entrou num cemitério.

— Claro que sim.

— Quando?

— Sei lá… Quando meu avô morreu. E às vezes a gente andava por lá, na saída da escola.

— Você ficou com medo?

James hesitou um segundo antes de responder:

— Quem, eu? Medo? Medo de quê?

— Bom, não sei… Aqueles túmulos… Saber que debaixo da terra tem gente morta, um monte de esqueletos enterrados.

— Se estão enterrados, não tem do que ter medo.

— Mas e se algum escapar?

— Como vai escapar se está morto, bobinho? Você não sabe que, depois que botam o caixão lá embaixo, jogam um monte de terra até encher a cova e ainda uma camada de cimento?

— Quer dizer que ninguém escapa?

— Claro que não. Mesmo porque, para ficar lá embaixo, tem de estar morto, e mortos não costumam andar por aí.

Edgar ficou em silêncio, e James achou que poderia voltar a dormir. Estava enganado. Pouco depois, a voz do primo soou no escuro:

— E se a pessoa não morreu de verdade?

— Bom, pode acontecer, mas aí mesmo é que ela não vai conseguir escapar. O máximo que poderá fazer é esperar dentro do caixão até morrer.

— E se levar anos?

Dessa vez, James não aguentou e estourou numa gargalhada:

— Não leva anos, seu tonto. A pessoa morre sufocada, sem ar, entendeu? Leva apenas algumas horas. E agora me deixa dormir; amanhã nós dois temos que acordar cedo.

Só que para Edgar, o sono não vinha. Pensava, aterrorizado, naquelas pessoas embaixo da terra, presas dentro do caixão, quem sabe ainda vivas. Resolveu fazer um teste: tapou o nariz e a boca para ver quanto tempo levaria para morrer. Muito mais rápido do que imaginava, sentiu que estava sufocando e foi com horror e alívio que tomou um longo hausto de ar.

ROZNAS, Jeanette. Edgar Allan Poe: o mago do terror – romance biográfico. São Paulo: Melhoramentos, 2012. [Fragmento]