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Pavão

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.

Ai de ti, Copacabana.
Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960.

Rubem Braga
Rubem Braga

Nasceu Cachoeiro de Itapemirim, ES, 1913 e morreu no Rio de Janeiro, RJ, 1990. Estreou na imprensa em 1928, com participação no jornal Correio do Sul, fundado pelos seus irmãos Jerônimo e Armando em Cachoeiro de Itapemirim. Mudou-se para Belo Horizonte MG, em 1931, onde passou a colaborar no Diário da Tarde.
Em 1932 fez a cobertura da Revolução Constitucionalista pelos Diários Associados. Ainda na década de 1930, trabalhou como repórter e cronista para periódicos como Diário de São Paulo e Folha da Tarde, entre diversos outros. Fundou a Folha do Povo, em 1935, em Recife, e a revista Diretrizes, no Rio de Janeiro, em 1938.
Entre 1944 e 1945 foi correspondente do Diário Carioca durante a Segunda Guerra Mundial, acompanhando a Força Expedicionária Brasileira na Itália. Em 1946 foram publicados seus poemas Senhor! Senhor!, Poeta Cristão, Adeus e Tarde (este último tradução de poema de Nuñez Aguirre) na Antologia de Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos, organizada por Manuel Bandeira. Nos anos seguintes foi cronista do Correio da Manhã, O Estado de S. Paulo e revista Manchete, além de colaborador em outros periódicos. Criou, com Fernando Sabino, a Editora do Autor, em 1960, e a Editora Sabiá, em 1967.
Foi embaixador do Brasil no Marrocos, entre 1960 e 1963. Integrou a equipe de jornalismo na TV Globo no período de 1975 a 1990. Rubem Braga, que fez algumas incursões pela poesia, é considerado por muitos estudiosos o maior cronista brasileiro. Seus poemas vinculam-se à segunda geração do modernismo