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Iracema

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.

ALENCAR, José de. Iracema. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/>. Acesso em: 19 ago. 2021. [Fragmento]

José de Alencar

José de Alencar foi um dos maiores representantes do romantismo no Brasil e um dos principais nomes da literatura nacional. O autor ficou marcado por investir em uma literatura nacional, menos influenciada pelos colonizadores portugueses. Como resultado, as obras de Alencar apresentam a cultura do povo, a história e as regiões brasileiras com uma linguagem inovadora para a época.