Por pouco Etienne não fora esmagado. Seus olhos habituavam-se, já podia ver no ar a corrida dos cabos, mais de trinta metros de fita de aço que subiam velozes à torre, onde passavam em roldanas para, em seguida, descer a pique ao poço e prenderem-se nos elevadores de extração. […]
Só uma coisa ele compreendia perfeitamente: que o poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e com tal facilidade que nem parecia senti-los passar pela goela. Desde as quatro horas os operários começavam a descer; vinham da barraca, descalços, lâmpada na mão, e esperavam em grupos pequenos até formarem número suficiente. Sem ruído, com um pulo macio de animal noturno, o elevador de ferro subia do escuro, enganchava-se nas aldravas, com seus quatro andares, cada um contendo dois vagonetes cheios de carvão. Nos diferentes patamares, os carregadores retiravam os vagonetes, substituindo-os por outros vazios ou carregados antecipadamente com madeira em toros. E era nesses carros vazios que se empilhavam os operários, cinco a cinco, até quarenta de uma vez, quando ocupavam todos os Compartimentos. Uma ordem partia do megafone, um tartamudear grosso e indistinto, enquanto a corda, para dar o sinal embaixo, era puxada quatro vezes, convenção que queria dizer “aí vai carne” e que avisava da descida desse carregamento de carne humana. Em seguida, depois de um ligeiro solavanco, o elevador afundava silencioso, caía como uma pedra, deixando atrás de si apenas a fuga vibrante do cabo.
— É muito fundo? — perguntou Etienne a um mineiro com ar sonolento que esperava perto dele.
— Quinhentos e cinquenta e quatro metros — respondeu o homem. […]
Émile Zola. Germinal. 2. ed. São Paulo: Círculo do Livro, 1976. p. 26-8.