Cabô Carnaval. Acho que já pode falar de comida. Antes, contudo, vou falar de higiene bucal.
Na minha última visita à dentista, a doutora me receitou um enxaguante bastante específico. Comprei a marca mais famosa uma, duas, três vezes.
Eis que na quarta vez topo com uma promoção incrível. Um enxaguante com o mesmo princípio ativo na mesma concentração, fabricado na Espanha, pela metade do preço. Perdão: o dobro do volume pelo mesmo preço. E ainda leva um dentifrício de brinde.
À noite, fui bochechar. Eca. Mas que Diabo? Gosto de anis. Vão pentear macacos, espanhóis!
Foi um dilema. Jogar fora? Perder a grana investida? Meu lado sovina falou mais alto. Encarei o anis bravamente.
E quer saber? Na décima enxaguada, o anis já estava bem amigo. Quase gostoso.
Um pouco de insistência amacia paladares e vence frescurites longamente entranhadas.
É o caso do coentro, erva que suscita manifestações de repúdio ao redor do mundo. Fatores genéticos podem fazer com que alguns indivíduos sintam gosto de sabão quando comem a erva, diz um artigo publicado na revista científica “Nature”. Essa repulsa, porém, pode ser suavizada ou eliminada pela exposição continuada ao tempero.
Eu sou um dos que superaram o ódio pelo coentro. Depois de duas décadas visitando in-laws no Espírito Santo (vulgo Coentrolândia), capitulei e me joguei na moqueca capixaba com toneladas da folha verde. Hoje adoro coentro.
Funciona com quase todas as comidas. Na infância, eu era um dos seres mais frescos e chatos para comer que já encarnaram na Terra. Na falta de culpados melhores, culpo os meus pais. Do lado paterno, veio o asco higienista por alimentos como a carne malpassada e entranhas em geral; a mãe consolidou idiossincrasias ao acatar todas as rejeições e adaptar a elas o cardápio doméstico.
Em determinado ponto da vida, tudo o que eu comia era: arroz, feijão, frango, batata frita, pizza de mozarela, macarrão ao sugo e chocolate.
Aquilo era o bastante para detonar inúmeras situações de constrangimento social. Elas foram aparecendo à medida que eu crescia e saía mais de casa sozinho. Pus na cabeça que precisava mudar para me virar.
Ainda tenho minhas frescuras de estimação. Não são tantas assim. Consigo superá-las em situações profissionais.
Há gente que se apega às restrições alimentares e sofre. Uma pena. Frescurite tem cura para quem está disposto a vencê-la.
NOGUEIRA, Marcos. Disponível em: <https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2020/02/26/frescurite-com-comida-tem-cura/>. Acesso em: 7 out. 2021.
TEXTO II
Coentro ou não coentro? Eis a questão
Excelente a crônica de Marcos Nogueira para a Folha nessa quarta-feira (“Frescurite para comer tem cura”). Infelizmente, ainda não consegui superar o ranço pelo coentro e seu intragável gosto de sabão. Sou “time salsinha”! Agora, porém, fiquei pelo menos mais convencido a dar outra chance a essa erva. Temos que conhecer e valorizar os nossos temperos e pararmos de dar ibope apenas para o que vem de fora! Viva a culinária brasileira!
Luiz Paulo Soares (Goiânia, GO)