São Paulo, 10 de novembro, 1924
Meu caro Carlos Drummond
Já começava a desesperar da minha resposta? Meu Deus! comecei esta carta com pretensão… Em todo caso de mim não desespere nunca. Eu respondo sempre aos amigos. Às vezes demoro um pouco, mas nunca por desleixo ou esquecimento. As solicitações da vida é que são muitas e as da minha agora muitíssimas e… Quer saber quais são? Tenho o meu trabalho cotidiano, é lógico. Lições no Conservatório, lições particulares. […] Como vai o Nava? Vocês não arranjam mesmo um jeitinho de vir passar uns dias em São Paulo? Isto aqui é engraçado. Me avisem antes se um dia se aventurarem até aqui. E até logo. Vou lhe mandar uma cópia do “Noturno”, é só minha irmã ter um tempinho e passará a versalhada a máquina. Olhe, a Estética publicou um poema meu, “Danças”, que eu acho que tem alguma coisinha dentro. Reflita e mande me dizer.
Um abraço do
Mário de Andrade
DE ANDRADE, Carlos Drummond. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade. Editora Companhia das Letras, 2015. Disponível em: <https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13973.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2021. [Fragmento]