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2018: o ano em que a checagem de fatos do Brasil amadureceu à força

Diretora da Agência Lupa fala sobre os desafios enfrentados pelos fact-checkers

No segundo semestre de 2015, quando abri a Lupa, a primeira agência de notícias do Brasil a trabalhar única e exclusivamente com fact-checking, teve gente que fez nariz torto e jogou praga: “Isso não vai dar certo. Fact-checking é uma bobagem”. Não sabiam que Facebook, Twitter, Youtube, Google e sobretudo WhatsApp ganhariam a força que têm hoje e que passariam a ser grandes fontes de (des)informação pública. Também não sabiam que apareceria no cenário mundial a figura de Donald Trump, catapultando o termo “fake news” a enésima potência e colocando a checagem de fatos de uma vez por todas no centro do debate político mundial.

No segundo semestre de 2015, quando pedi a três corajosos jornalistas que deixassem seus trabalhos e começassem a checar comigo declarações de poderosos, sempre com base no código de ética da então desconhecida International Fact-checking Network (IFCN), teve gente que riu: “Fast o quê? Fast checking como em fast food?”. Não sabiam que, menos de três anos mais tarde, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recorreria a esses mesmos profissionais e a essa mesma metodologia – já consolidadíssima – para “derrubar” vídeos e postagens que colocariam em xeque a confiabilidade das urnas eletrônicas e, por consequência, a democracia do Brasil.

No segundo semestre de 2015, quando deixei de lado minha vida de repórter/editora e assumi a função de empresária/gestora em um Brasil que parecia se afogar numa ainda emergente crise econômica e política, todas as redações de jornal, revista e site reconheciam empiricamente que checar a veracidade das declarações colhidas por seus repórteres era algo vital, mas poucas efetivamente o faziam. Agora, no fim de 2018, o Brasil conta com ao menos oito projetos ativos de verificação. A checagem tornou-se praticamente obrigatória nas redações e qualquer bom repórter deve ser capaz de realizar uma verificação antes de entregar seu texto para edição. Por conta disso tudo, digo que 2018 foi o ano em que o fact-checking brasileiro amadureceu à força.

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De pequenas figuras de atuação remota no mundo do jornalismo, nós, os fact-checkers, passamos a ser os soldados na linha de frente da batalha contra as notícias falsas. Fomos os primeiros a adquirir o hábito diário de vasculhar as redes sociais e os aplicativos de mensagens, navegando naquele mar infinito de informações sem pé nem cabeça, escrever histórias e avisar aos gigantes do Vale do Silício e aos cidadãos plugados em celulares o que era verdadeiro e o que era falso. Seguimos fazendo isso todos os dias. Não é pouco. Pense bem.

TARDÁGUILA, Cristina. 2018: o ano em que a checagem de fatos do Brasil amadureceu à força. Revista Época. Editora Globo. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/epoca/2018-ano-em-que-checagem-de-fatos-do-brasil-amadureceu-forca-23328263>. Acesso em: 09 abr. 2020. [Fragmento]