Como uma ilha azul que se avista a distância, pouco a pouco ela ia ganhando contorno e deita-lhes, e, já próxima, revelava formas originais e intrigantes – a silhueta elegante forte, que eu já vira outras vezes. […] Não era íntima conhecida mas uma paixão que me perseguia havia um bom tempo. A escuna azul, um veleiro viajante de dois mastros que de tempos em tempos aparecia no Brasil, e que eu nunca deixava escapar sem uma pequena abordagem. Rapa Nui, nome polinésio da ilha de Páscoa, lindo nome para um barco azul e cheio de histórias. Construido em alumínio, em Tarare, na França, num estaleiro onde nasceram dúzias e dúzias de barcos e viagens que se tornaram célebres. A escuna azul, mais do que um veleiro interessante, era uma espécie de máquina de viajar por mar, segura, independente e muito bem equipada. Um barco feito para ir por qualquer caminho. E voltar. Pior ainda, um barco polar, que a qualquer hora acabaria atravessando as altas latitudes para navegar no gelo. Um barco com cara e alma de barco. O barco dos meus sonhos.
KLINK, Amyr. Entre dois polos. São Paulo: Cia das Letras, 1992. [Fragmento]