Rio de Janeiro – Dia desses, arrumando livros na estante, um volume caiu ao chão. Tenho a convicção de que essas coisas têm um sentido, são um sinal que precisa ser entendido. Sempre que isso me acontece, procuro ler o recado que a lei da gravidade me dá. É que nem aqueles periquitos que depois da música do realejo metem o bico e tiram uma sorte para o freguês.
O livro não parece grande coisa, é uma coletânea de artigos publicados na imprensa norte-americana sobre a comunicação no limiar do novo século. Desafios criados pela informática, pela crise do papel, pela distribuição e pela nova concepção do jornalismo. Ele deve ser informativo ou opinativo? Em que proporção deve ser isso ou aquilo? E por aí vai.
[…] Na página que ficou amassada li o trecho final de uma argumentação sobre a necessidade da opinião baseada na informação. A frase começava na página anterior, mas o destino me obrigava a ler apenas o seu final, que me recomendava ter opinião somente depois de ter uma informação exata.
Parece o óbvio. Passei a vida inteira tendo opiniões e nem sempre posso considerar minhas informações exatas. Por exemplo: a doença do Milton Nascimento é Aids ou diabetes? O PC Farias foi vítima de crime passional ou de queima de arquivo? O João Saldanha -segundo revelou Zagalo- foi um mentiroso naquela questão da escalação do Dario pelo general Médici? Onde estão os ossos de Dana de Tefé?
Bem, a mensagem que recebi do destino, via lei da gravidade, me obrigaria a apurar essas momentosas questões.
Tenho por norma achar que a verdade é uma questão de opinião e não de informação. Pilatos perguntou a Cristo o que era a verdade -e olha que perguntava a quem se declarava a própria verdade. Não teve resposta. […]
CONY, Carlos Heitor. Opinião x informação. Folha de S. Paulo. 4 maio 1997. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1997/5/04/opiniao/6.html>. Acesso em: 18 ago. 2021.